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  • Foto do escritorJefferson Negreiros

QUAL A DIFERENÇA ENTRE O LUTO E A MELANCOLIA?


Segundo Sigmund Freud (1917[1915] /2006) o luto é uma reação à perda de alguma natura, por exemplo: a perda de algum familiar, a perda da liberdade, o ideal de alguém como: um(a) namorado(a) e assim por diante. E em algumas pessoas enlutadas, podem apresentar sensações de melancolia – que segundo o autor, pode haver uma disposição patológica. A diferença é que no luto não deve considerá-lo como algo patológico, mesmo que em algumas pessoas são apresentadas reações patológicas momentâneas. E em alguns casos, clinicamente falando, não há necessidade de submetê-los a tratamentos médicos. Há um período em que a pessoa se distancia de amigos, de atividades às quais costumam fazer, porém, por um período curto e mesmo sentindo a falta do ente querido, etc., voltam às suas atividades.


Pode ocorrer também, em algumas pessoas que estão passando pelo luto, sensações difíceis e penosas de desinteresse pelo mundo externo. Por isso, muitas vezes o luto pode ser facilmente confundido com a melancolia. Acontece que, ao analisar um paciente nestas condições, o objeto[1] amado não existe mais. Exigindo da pessoa, psicologicamente, a retirada da libido[2] naquele objeto que não existe mais. E isso é um processo doloroso na qual muitas delas enfrentam grandes dificuldades para superar. Mas é um fato notório que as pessoas não abandonam uma posição libidinal, nem mesmo quando existe um suposto substituto, ou seja, mesmo que um ente querido faleça, por exemplo, um pai ou uma mãe; não é possível substituí-los - sempre ficará um vácuo nesta falta (pg. 250).


Neste aspecto, em alguns casos o objeto pode ser substituído ilusoriamente, mesmo respeitando a realidade. Abrindo uma passagem - que chamamos de alucinação psicótica passageira carregada de desejo – como uma forma de tentar substituir o objeto perdido. “No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio ego” Freud (1917/2006, p. 251).


 

Já na melancolia, as sensações são marcadas por um desânimo profundo, perda do interesse pelo mundo externo, perda da capacidade de amar, diminuição da autoestima, inibição de toda e qualquer atividade, autorrecriminação de si mesmo, pensamentos e ações punitivas (autoacusações), não se preocupam com sua beleza, com doenças físicas e posição sociais. Diferente da melancolia, a diminuição da autoestima não está presente no luto. Porém, na melancolia também está presente à reação pela perda do objeto amado, mas o objeto neste quadro talvez não tenha morrido e sim perdido enquanto objeto de amor “O melancólico exibe ainda uma outra coisa que está ausente no luto – uma diminuição extraordinária de sua autoestima, um empobrecimento de seu ego em grande escala” Freud (1917/2006, p. 251).


Para exemplificar, um rompimento de um relacionamento pode gerar um quadro melancólico. Mesmo que a pessoa supostamente saiba que levou um fora, não podemos ver claramente o que foi perdido. Quer dizer, sabe-se quem perdeu, mas não sabe o que perdeu nesse alguém. Freud diz que no melancólico há uma retirada do objeto na consciência e os pacientes melancólicos geralmente são pessoas que se ajustam ou se espelham realmente em outras pessoas – a que ama, quem amou ou deveriam amar. As autorrecriminações, na verdade, são recriminações feitas a um objeto amado e não de si mesmos. Quando dizem serem pessoas pobres e vazias, estão falando de si, porém, estão falando de alguém que faltou com eles mesmos.


Contudo, a característica mais visível na melancolia – psiquicamente dizendo – é sua tendência a se manifestar em manias. Mas não acontece em todos os casos, geralmente em casos mais leves ou brandos, podendo ser facilmente tratado pelo método psicanalítico. Neste viés, o ego do paciente é sucumbido, enquanto a mania domina o paciente. Em outras palavras, a pessoa acometida pela mania, vivenciam atividades e pensamentos buscando sempre uma forma de triunfar, de ganhar algo para que o ego seja cada vez mais sucumbido e oculto. Uma maneira de esconder o objeto perdido por manias. Em suas palavras:


As causas excitantes da melancolia têm uma amplitude muito maior do que as do luto, que é, na maioria das vezes, ocasionado por uma perda real do objeto, por sua morte. Na melancolia, em consequência, travam-se inúmeras lutas isoladas em torno do objeto, nas quais o ódio e o amor se digladiam; um procura separar a libido do objeto, o outro, defender essa posição da libido contra o assédio. Freud (1917/2006, p. 261).

Por isso, é facilmente confundido luto de melancolia. O objeto (ente querido) pode ser, simultaneamente, amado e odiado, o que chamamos de ambivalência. O luto pode tornar-se patológico na medida que vai constituindo as características da melancolia. Por isso, a importância de buscar tratamento adequado para esses casos.


Busque sempre um profissional qualificado.

[1] Quando menciono a palavra objeto, significa que pode ser qualquer coisa, pessoas e ideais. [2] Libido na psicanálise, não significa um termo apenas sexual, e sim uma fonte de energia psíquica que se dirige a qualquer objeto em que a pessoa deseja – consciente ou inconscientemente.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Luto e Melancolia.Edição Standard Brasileiras das Obras Completas de Sigmund Freud, v.XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1917 [1915]/2006.

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