Amar é um não sei quê, que vem não sei de onde; nasce não sei como: contenta-se não sei com quê; sente-se não sei quando; e mata não sei por quê.” (Ovídio)
Analisando a citação acima de Ovídio, vamos pensar sobre ela! O amar é um não sei que! Amar não tem uma explicação tão racional, sabemos falar dela, mas quando de fato não sabemos explicá-la, apenas que sentimos. O amor ultrapassa qualquer limite, falo aqui de limite no sentido de: doar-se constantemente a quem ama, estar ao lado da pessoa amada, de cuidar, de compreender, de respeitar seu espaço, é uma incondicionalidade.
Incondicional, é que não depende de, não está sujeito a qualquer tipo de condição, restrição ou limitação. É como uma mãe expressa seu amor ao filho, não depende de nenhum fator para amá-lo, simplesmente ama e sempre irá amá-lo, independente de qualquer condição. O estar ao lado da pessoa amada, relações amorosas parecem ser um caminho onde o homem se realiza e se transforma continuamente. (OLIVEIRA, 2013)
Estudos mostram que o sexo é uma complementação para uma condição absoluta para que na relação amorosa se sintam completos, realizados e perfeitos. Embora existam as diferenças, um sem o outro parece não ter nenhuma utilidade, e a vida acaba perdendo o sentido, segundo estudos de Badinter. (OLIVEIRA, 2013)
Não quero de forma alguma levantar dúvidas ao leitor, referente à complementaridade de formar um relacionamento, pois existem pessoas que optam em não ter relacionamentos amorosos, mas possuem sentimos de amor como, por exemplo, seus pais, seus familiares.
Amar não é sempre ter desejo erótico com o outro, o amor está atrelado também ao desejo, mas o desejo também não é uma experiência erótica que podemos entender no campo das idéias, está compreendida apenas em um elo cego de um corpo a outro. Diferente da sexualidade, onde é um processo autônomo e que revela uma interação corporal e psíquica que ambos se expressão de forma recíproca. (Oliveira, p. 60, 2013).
Quando estamos envolvidos com uma pessoa, relações amorosas, o que passa a acontecer, segundo Oliveira, 2013, é semelhante ao processo de desejo (elo cego entre um corpo ao outro) é que a pessoa que ama quer possuir não somente um corpo, mas sim um corpo animado por uma consciência. Mas o que é essa tal consciência? É a abertura do outro que está disposto a amar!
Amar é transcender o corpo e a subjetividade do outro, é um fenômeno que o autor chama de intersubjetividade, é a relação de ambas as subjetividades.
O indivíduo que ama, deseja estar presente na vida do outro, e mostra essa intenção por diversas maneiras por um apelo mútuo como: palavras, gestos, olhar, um pedido e etc. E muitas vezes o individuo descobre esse apelo não com palavras, segundo Luijpen, 1973, mas sim pelo que é mostrado ou velado.
Mas muitas vezes, existem pessoas que não conseguem ver o que a pessoa amada quer mostrar, não falo aqui como palavras, mas o que é velado ao outro, nesses casos é onde o sujeito está sofrendo pressões internas que o remete ao bloqueio dessas expressões amorosas impedindo-o a constatarem o real significado do apelo do outro. Digamos então que seu existir esta fechado no seu próprio mundo, grudado na própria subjetividade sustentada nas próprias necessidades. (Oliveira, 2013)
E como diz Luijipen, 1973: afirma que “para ver determinada realidade, é preciso mais do que olhos.” Então para estar aberto a amar, é preciso sair de si mesmo, abandonar suas representações da vida e olhar o real significado do apelo do outro. Ver com sua subjetividade, seu amor, seu ser aberto. O apelo do outro não é sua qualidades, é mais que isso, as qualidade não sustentam o amor, e amar transcende a qualquer coisa! Para o autor:
“... o único fruto que o amor pode esperar é que o outro exista.”
As relações amorosas precisão de uma inter-relação de ambos, com as coisas, com o mundo, e também as vivencias, as experiência. Viver, e ver! Para que possa entender essa relação, o ser precisa ter uma relação com a natureza (palavras, sentidos), com o homem (manifestações explicitas e recíprocas) e com os seres espirituais (subjetividade). OLIVEIRA, 2013.
Hoje o que se percebe é que em alguns tipos de relações, ocorre que um sentimento de posse, mas o que diz Sartre, é que esse conflito nasce a partir do sentido do ser para o outro. Onde não é uma coisa boa! Amar não é ser dono de ninguém, não criar posso pelo outro, é necessário negar que EU seja o outro, pois se isso acontecer você se perderá no outro.
De acordo com Oliveira, 2013, para Sartre o amor deseja capturar a consciência e com isso tenta se apoderar da liberdade do outro, a pessoa que quer ser amada não quer de forma alguma ser escravo do amor, não quer o amado como coisa,
“... quer possuir uma liberdade enquanto liberdade.”
Para que você possa amar, é preciso que projete ser amado, não quer apenas possuir um corpo, mas sim a subjetividade. O amor experimenta o viver do outro, algo único e irrepetível, ser amado, o amor acontece além do que pensamos, penetra nas mais profundas camada espirituais do outro.
“Quem ama de verdade, é como se fosse através da roupa física e psíquica da pessoa espiritual, para por os olhos nela própria.”
Então o que te impede de dizer eu te amo? Percebe que envolve muito mais percepção nisso não é mesmo? Dizer eu te amo, é muito forte, amar é muito mais.
Segundo Oliveira, 2013, em suas pesquisas, diz que para May, revela que para amar são necessários alguns pressupostos. O indivíduo deve ser capaz de se perceber primeiro, estabelecer empatia com o outro, apreciar e afirmar suas potencialidades, o amor só é possível se é oferecido espontaneamente de maneira incondicional, é doar, ou seja, é preciso maturidade no conceito de si mesmo. Pois só é possível dar aquilo que se tem para dar.
Portanto amar, não basta só dizer, se você ama, nada te impede de dizer, mas se a palavra está te bloqueando, não diga, mostre e com o tempo quando se sentir preparado será capaz de expressar seus sentimentos em palavras. É importante que este bloqueio, você reflita sobre ele, veja sua abertura nas relações , como se vê, como vê o outro.
Referências:
CAMON, Valdemar A (Org). psicoterapia fenomenológica-existencial. 1ºEd. São Paulo: Cengage Learning, 2013.
LUIJIPEN, W. Introdução à fenomenologia existencial. São Paulo: EPU, 1973.
MAY, Rollo. O homem à procura de si mesmo. 16. Ed. Petrópolis: Vozes, 1990.
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